A Aliança Internacional de Checagem de Fatos (em inglês, International Fact-Cheking Network, IFCN, é uma rede de verificação de notícias criada em 2015 pelo Instituto Poynter, uma escola de jornalismo e pesquisa. A entidade reúne canais de comunicação do mundo inteiro. E tem como objetivo promover uma rede de troca, boas práticas e diretrizes na área de checagem de fatos.
Neste artigo você irá conhecer mais sobre a atuação da IFCN e o Código de Princípios da rede. Vamos falar também sobre as agências brasileiras que são membros verificados da aliança e algumas dicas de como checar as informações que você recebe utilizando meios disponibilizados pela IFCN e outras instituições. Vamos lá?!
Mas antes que tal entender um pouco sobre o que é checagem de fatos e o porquê de você escutar tanto o termo “fake news”?
O que é checagem de fatos?
A checagem de fatos é uma prática jornalística que visa verificar a veracidade das notícias. Além das famosas fake news – notícias que são completamente falsas – a checagem também pode averiguar se determinada informação é exagerada, insustentável ou contraditória, por exemplo.
Saiba mais sobre fake news aqui!
Nos últimos anos, esse “nicho” do jornalismo vem ganhando proporção à medida que a disseminação de notícias falsas aumenta e torna necessário a atuação de agências do gênero.
Um estudo realizado durante as eleições americanas de 2016 mostrou que no Twitter notícias falsas eram tão compartilhadas quanto informações verdadeiras. No período, o termo “fake news” ganhou força e um intenso volume de informações falsas a respeito dos candidatos à presidência, Hillary Clinton e Donald Trump, começou a ser disseminado, principalmente via redes sociais.
Ainda em 2016, foi notado um aumento no número de agências verificadoras no país norte americano, muitas delas criadas apenas para cobrir as eleições, tendo suas atividades encerradas logo após o término do período eleitoral.
Após esse episódio, a expressão passou a ser utilizada mundialmente para se referir a notícias fraudulentas, que podem ou não serem criadas do zero. O objetivo é enganar o leitor e por muitas vezes, também de prejudicar alguém em benefício de outra pessoa.
O Código de Princípios da IFCN
Criado em 2016, durante a Global Fact 3 – evento anual que reúne agências de fact-checking do mundo inteiro -, o Código de Princípios da IFCN é um conjunto de diretrizes éticas que guiam os checadores no processo de verificação de notícias.
Para obter o título de organização signatária à IFCN, é necessário cumprir com os compromissos estabelecidos e “assinar embaixo” do Código de Princípios da rede, tornando-se uma instituição validada.
O conjunto de responsabilidades é dividido em cinco tópicos, que são: o apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia e política de correções aberta e honesta. E para você entender mais sobre a atuação da IFCN, vamos falar deles de forma individual abaixo:
Princípio #1: Compromisso com o apartidarismo e a justiça.
As organizações signatárias verificam afirmações usando o mesmo padrão para todas as verificações de fatos. Eles não concentram sua verificação em nenhum dos lados. Seguem o mesmo processo para cada checagem e permitem que as evidências ditem as conclusões. Os signatários não defendem ou assumem posições políticas sobre as questões que verificam.
Princípio #2: Compromisso com os padrões e transparência das fontes.
Os signatários desejam que seus leitores possam verificar os resultados por si próprios. Eles fornecem todas as fontes com detalhes suficientes para que o público possa replicar seu trabalho, exceto nos casos em que a segurança pessoal de uma fonte possa ser comprometida. Nesses casos, as organizações fornecem o máximo de detalhes possível.
Princípio #3: Compromisso com a transparência do financiamento e da organização.
As organizações signatárias são transparentes sobre suas fontes de financiamento. Caso aceitem financiamento de outras instituições, as agências signatárias garantem que tais financiadores não tenham influência sobre as verificações de fatos e seus relatórios. Os signatários detalham a experiência profissional de todas as figuras-chave da organização e explicam a estrutura organizacional e o status legal. Eles indicam claramente uma forma dos leitores se comunicarem com eles.
Princípio #4: Compromisso com os padrões e transparência da metodologia.
Os signatários explicam a metodologia que usam para selecionar, pesquisar, escrever, editar, publicar e corrigir suas checagens de fatos. Eles encorajam os leitores a enviar declarações para verificação de fatos e são transparentes sobre por que e como eles verificam.
Princípio #5: Compromisso com uma política de correção aberta e honesta.
As organizações publicam sua política de correções e a seguem rigorosamente. Corrigem de forma clara e transparente, de acordo com as diretrizes, procurando, na medida do possível, que os leitores vejam a versão corrigida.
Como falamos lá em cima, esse é um resumo do código. Caso você queira ter acesso a ele por completo, clique aqui (em inglês).
Atualmente, 86 agências possuem o selo de membro verificado da IFCN e outras 13 estão em processo de renovação. Nelas são realizadas auditorias anualmente para garantir que os conceitos de ética estabelecidos pela entidade sejam seguidos fielmente.
O Brasil possui três agências de verificação com o selo ativo na IFCN: a Agência Lupa, o blog Estadão Verifica, que pertence ao jornal O Estado de S. Paulo, e o site independente Aos Fatos.
Vamos falar um pouco sobre cada uma delas no próximo tópico.
Agências brasileiras signatárias a IFCN
Como comentado anteriormente, no Brasil, existem três agências signatárias a IFCN: Agência Lupa, Aos Fatos e Estadão Verifica. Isso significa que elas trabalham em cima dos princípios de ética que vimos e podem ser usadas como referência na busca pela veracidade de uma informação. Falaremos sobre elas individualmente:
Agência Lupa
Primeira agência de fact-checking brasileira, foi criada em 2015 e apesar de hospedada no site da Revista Piauí, funciona de forma independente ao grupo. Produz verificações em formatos de texto, áudio e vídeo, e acompanha o noticiário das principais pautas atuais. Para sugerir uma checagem, o leitor precisa preencher um formulário no site da agência.
Aos Fatos
Voltado para o âmbito político, o Aos Fatos é um site jornalístico independente fundado em 2015. Além da checagem de fatos, a empresa monitora campanhas de desinformação nas redes sociais, produzindo relatórios e reportagens investigativas sobre o mundo das informações falsas e projetos que unem fact-checking e tecnologia. É possível dar uma sugestão de pauta através do Whatsapp, que você encontra na página da organização.
Estadão Verifica
Atuando desde 2018, o Estadão Verifica é um núcleo de checagem de fatos pertencente ao jornal O Estado de S. Paulo. O grupo realiza a verificação de áudios, textos e imagens potencialmente enganosas, sendo priorizadas aquelas enviadas com mais frequência. Caso você receba alguma informação duvidosa e queira sugerir para checagem, você pode encaminhar para a agência através do Whatsapp ou formulário disponibilizado no site.
Nos sites de todas essas plataformas, é possível acessar a metodologia usada no processo de checagem de informações. É disponibilizado também um canal para os leitores que queiram apresentar uma contestação ou correção de um conteúdo postado.
Essas informações devem estar claras e acessíveis ao leitor. Tais medidas são indispensáveis para instituições signatárias a IFCN, e em casos de atuação incompatível com o Código de Princípios, é possível abrir uma denuncia aqui (em inglês).
A importância do fact-checking na era da (des)informação.
De acordo com pesquisa realizada pelo Datafolha em março deste ano, a população considera os meios de comunicação tradicionais como os mais confiáveis para divulgação de notícias sobre o novo coronavírus. Lideram a lista a televisão (61%) e os jornais impressos (56%). Os programas de rádio e sites de notícias vem logo atrás, com 50% e 38%, respectivamente. Finalizando a lista, surge o Whatsapp e o Facebook, com 12% cada.
O professor da Facom (Faculdade de Comunicação) da Universidade Federal de Juiz de Fora, Paulo Roberto Figueira Leal, acredita que muitos brasileiros estão inseridos em um processo de aprendizagem envolvendo a confiança em informações que são recebidas via Facebook e Whatsapp. “Nas eleições de 2018, mais recentemente, esse (Whatsapp) foi um veículo especialmente capaz de ser um repositório de disseminação de fake news, de informação falsa. Então muita gente que até acreditou em alguma coisa, eventualmente depois percebendo que não era verdade, pode ter um processo de aprendizagem com a não confiabilidade deste meio.” Analisa. Veja a análise completa aqui.
O docente completa:
“Acho que a sociedade cresce e dificulta a circulação de fake news quanto mais ela é capaz de perceber criticamente os conteúdos que recebe, e quanto mais é capaz de desenvolver mecanismos de verificação, de checagem de outras fontes, dependendo menos da única fonte que, eventualmente, diz que algo é verdade.”
O fact-checking se mostra importante na medida que representa uma ferramenta de verificação de informações e checagem de fontes. Apesar de ser uma prática inerente ao jornalismo, iniciativas que se dedicam exclusivamente com checagem de fatos, como as signatárias a IFCN, passam a oferecer certa credibilidade ao trabalharem em cima de uma política de transparência. Essas políticas contribuem para o exercício do pensamento crítico de quem busca essas informações, com as agências sendo responsáveis somente pela apresentação de dados ao leitor, possibilitando que ele chegue sozinho às suas próprias conclusões.
05 dicas simples para identificar notícias falsas
Hoje, por meio de ferramentas encontradas online, é possível checar de forma simples se uma informação suspeita é de fato uma fake news. As agências que mencionamos acima, e outros projetos de checagem de fatos (como o Fato ou Fake, do Grupo Globo), disponibilizam em seus websites o acervo de verificações realizadas pelo canal.
Iniciativas feitas em parceria com empresas de tecnologia auxiliam em um processo mais rápido e abrangente de checagem, tornando as informações verificadas mais acessíveis e fáceis de compartilhar.
É o caso do chatbot da IFCN, serviço criado durante a pandemia com o objetivo de combater a desinformação disseminada com a chegada do novo coronavírus. O robô, que funciona através do Whatsapp, oferece ao usuário a possibilidade de verificar boatos de um determinado tema através de palavras-chave, disponibilizando também as últimas checagens realizadas pelas organizações signatárias à rede.
Totalmente gratuito e em português, a ferramenta foi desenvolvida em parceria com o Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), mas também é possível acessar o chatbot em inglês, espanhol e hindi. O projeto faz parte do CoronaVirusFacts Alliance, uma rede de colaboração que reúne mais de 100 organizações verificadoras do mundo criada para combater os boatos envolvendo o COVID-19.
Para além da IFCN, existem outras maneiras de identificar uma fake news e buscar as fontes de uma notícia. É muito importante estar atento à detalhes simples, mas essenciais para reconhecer características de notícias enganosas. E para te ajudar com esse reconhecimento, reunimos 05 dicas simples para identificar boatos:
- Analise a fonte da notícia. Verifique se a informação vem de canais já conhecidos e seguros.
- Observe a data da notícia. É comum que informações antigas voltem a circular como se fossem atuais.
- Busque a notícia em outros locais. Cheque se a informação foi divulgada por outros sites e fontes. (e lembre do item 1!)
- Duvide de informações exageradas ou alarmantes. Fake news se alimentam de compartilhamentos. Então, em caso de dúvidas, não passe adiante.
- Utilize as agências de checagem de fatos. Aproveite as ferramentas disponibilizadas pelas agências para se informar sempre que tiver dúvidas a respeito de uma notícia!
E você já pratica checar as notícias que recebe? Conta aqui!
REFERÊNCIAS
CAMBIASSU: ESTUDOS EM COMUNICAÇÃO. Práticas de checagem de fatos no Brasil: os sites de fact-checking e a participação dos indivíduos em rede.